RELATOS E REFLEXÕES A PARTIR DO CONTATO COM OS ALUNOS POR MEIO DO PIBID
- João Pedro dos Santos
- 30 de ago. de 2021
- 4 min de leitura
Atualizado: 15 de out. de 2021
O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) trata-se de um programa que possibilita e cria oportunidades únicas para o desenvolvimento pessoal e a nível profissional. Em apenas alguns meses me deparei com situações únicas que julgo não só a mim, porém como à todos os outros, me levaram a prática reflexiva a respeito das minhas posturas e práticas com os alunos, como pensá-las e planejá-las. Ou seja, o PIBID nos desloca através do processo de desenvolvimento da prática docente, não é possível entrar de uma forma e ao final ainda preservar esta forma inicial, a docência requer movimento e promove movimento, não é algo estático e matematicamente calculado como se fosse possível pré-determinar o produto final deste trabalho (os alunos).
Quando entrei para o PIBID não sabia muito bem o que esperar e como seria a minha contribuição para o coletivo que me cerca, pibidianos e alunos das escolas parceiras, o que leva o estudante pibidiano iniciante a ter dúvidas a respeito de sua capacidade, aptidão ou até mesmo questões em um nível subjetivo muito maior no que diz respeitos às relações entre dom, talento e preparação técnica/teórica para a prática docente. Encontrava-me então nesta posição de questionamento, questionamentos estes que conduzem a uma conduta um pouco passiva de não assumir muitas responsabilidades e evitar outras, julgo que é o efeito deste primeiro momento no PIBID onde ocorrem as primeiras experiências e contatos com os alunos. Então ocorre que alguns dias depois do meu ingresso ao PIBID, é agendada uma “intervenção” na qual eu teria uma participação ativa com os alunos, o que naturalmente gerou uma ansiedade e nervosismo, pois seria o meu primeiro contato com os alunos, o que é somado a um medo irracional de interação com os alunos, medo este que julgo estar vinculado a demanda que o pibidiano tem dos alunos, a qual se trata da sensação de correspondência, de gerar os estímulos corretos para que o aluno tenha a reação esperada ou planejada, o que não é possível de se fazer. “Por exemplo, a socialização dos alunos se estende por muitos anos, e seu resultado pode se manifestar bem depois do período de escolaridade.” (TARDIF, 2001, p.31) Entretanto ocorreu tudo bem durante a intervenção e ficou o aprendizado, por mais que os momentos sejam planejados, não é possível calcular com exatidão o processo e seus efeitos.
Então ocorre minha segunda experiência com os alunos, a qual não considerei muito satisfatória em termos de rendimento e qualidade, fiquei responsável por um momento da intervenção que julguei antecipadamente como fácil. Ocorrido este que me levou a refletir a respeito dos critérios que usei para escolher qual momento da intervenção eu assumiria, e percebi que esta escolha diz bastante a respeito do tipo de professor que alguém pode se tornar. Resumindo todo o ocorrido, diria que o meu critério para a escolha da tarefa que exerceria com os alunos foi baseada no que foi considerado como de fácil assimilação por minha parte, ou seja, o critério escolhido baseava-se na idéia do professor como centro do momento de construção do conhecimento, porém o que foi considerado de fácil entendimento por mim, não foi de fácil entendimento para o aluno. Então passei a tentar colocar em prática a idéia de que a escolha da atividade que é melhor para o aluno, ou seja, centrada no aluno, é na verdade a melhor escolha para que eu pudesse ministrar ou orientar com clareza. Pode parecer um pouco confuso, mas a diferença está nos detalhes: a atividade que julgo ser fácil de orientar pode não ser fácil para o aluno assimilar, e aí a prática docente vai mal, mas quando penso na atividade que facilita a compreensão do aluno, esta é uma noção diretamente proporcional a facilidade que o professor terá de orientar a prática.
A demanda que o docente tem do aluno, ou seja, a forma como o docente espera que o aluno vá assimilar o conteúdo tem de estar ajustada a uma compreensão adequada a respeito do que constitui o ser humano representado na figura do aluno. Compreensão esta que uma vez se tratando de uma perspectiva que vê o aluno abstraído de sua subjetividade (dimensão sociocultural e etc.), terá como produto uma atividade meramente padronizada, como se a comunidade discente fosse um todo homogeneizado, e uma vez que a comunidade discente é bastante diversificada, pode não haver significação das atividades para os discentes, se não há significação não há aprendizagem. Portanto, seguindo pela via que compreende o aluno como ser individual e sociocultural, pode-se partir do ponto de que os alunos individualmente encontram-se em níveis de assimilação do conhecimento diferentes uns dos outros, e esta diferença é inerente ao ser humano. Vigostki ao introduzir a discussão a respeito da origem genética do pensamento e da linguagem, diz que “a relação entre esses processos não é uma natureza constante, imutável, ao longo de todo o desenvolvimento, mas uma grandeza variável”. (VIGOSTKI, 2020, p. 111) Ou seja, a construção de uma atividade significativa para o aluno só pode partir de uma análise prévia adequada das necessidades de uma turma.
Porém no contexto do PIBID não há como ter um planejamento específico para cada turma, mas o que ressalto é a importância da compreensão adequada a respeito do aluno, a qual me leva a escolher o momento da intervenção baseado no que subjetivamente julgo que seria mais significativo para aluno.
Estas duas experiências que compartilho, acredito que expressam de forma satisfatória o deslocamento de pensamentos e condutas que o PIBID proporciona aos bolsistas e colaboradores, não que tenho a presunção de falar que cheguei ao final do processo, mas que estou no processo e caminhando para o desenvolvimento e amadurecimento das minhas futuras práticas docentes.
BIBLIOGRAFIA
VIGOTSKI, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. Martins Fontes. Trad. Paulo Bezerra, 2020.
TARDIF, Maurice. O trabalho docente, a pedagogia e o ensino: interações humanas, tecnologias e dilemas. Cadernos de educação, v. 16, p. 7-14, 2001.
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